terça-feira, 17 de março de 2015

MATRIZES DA GRAVURA CEARENSE


EXPOSIÇÃO

Matrizes da gravura cearense

17.03.2015

Grupo de gravadores monta coletivo e prepara exposições para este semestre: uma nacional e outra local

arte
A frente cearense que vai levar a arte da gravura do Estado para a SP Estampa
FOTO: BRUNO GOMES
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A matriz é original, única, cujo nome indica sua função, gerar cópias. No caso da gravura, em suas incontáveis técnicas, o suporte também tem uma variedade material. Grava-se em madeira, ferro, borracha, PVC, isopor, etc. Obras de arte no universo da reprodução, as gravuras encontraram no Ceará um terreno fértil, tanto para as expressões da tradição popular quanto aquelas do domínio erudito.
A novidade deste meio é a criação de coletivo de artistas veteranos. A ideia do grupo Matrix é dinamizar a criação dos integrantes e possibilitar o estudo do processo de impressão artesanal no Ceará. Com esses dois objetivos, o grupo espera alcançar resultados inovadores e influenciar outros artistas do Estado através da difusão do conhecimento, em um processo semelhante àquele que eles conhecem tão bem.
Fazem parte do grupo, Francisco Bandeira, Nauer Spíndola, Abelardo Brandão, Diego Sann, Túlio Paracampos, Marcelo Silva e Sérgio Lima. Representantes da velha e nova guarda da gravura no Ceará. A ideia de se reunir em um grupo veio após se encontrarem em sucessivas exposições coletivas, tenham sido essas parcerias elas planejadas por um deles ou resultadas do mais puro acaso.
Após as reuniões que demonstraram o sucesso da ideia e a reunião de nomes relevantes do cenário artístico local, os sete artistas contaram com uma grande ajuda. Pedro Eymar, diretor do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), apostou na iniciativa dos gravadores e concedeu ao grupo a Oficina de Gravura do Mestre Noza, anexa ao equipamento cultural da universidade, e o pleno acesso ao acervo de gravuras do museu, um dos maiores em número de peças de artistas tradicionais.
Com os talentos reunidos e as condições favoráveis, os resultados já começam a aparecer. O principal deles é a seleção do trabalho do coletivo a SP Estampa. O evento é uma referência no seguimento e acontece entre 12 e 19 de maio (com um simpósio no dia 16). Organizado pela Galeria Gravura Brasileira, em São Paulo, reúne galerias, ateliês, instituições e artistas do Brasil e da América-Latina que trabalham com a estampa sob todas as suas formas.
Ao todo, serão disponibilizadas 14 gravuras - duas de cada membro do coletivo -, que estarão disponíveis para visitação na sede da galeria (Rua Dr. Franco da Rocha, 61, Perdizes, São Paulo). Nas imagens, cenas do cotidiano e do imaginário cearense, além de representações abstratas através de grafismos e formas geométricas. O grupo prepara uma delegação para aproveitar a exposição para manter contato com galeristas e colecionadores, além de novas conexões artísticas.
Individual
A parceria vai além dos projetos do coletivo Matrix. Os artistas seguem com suas atividades individuais e acabam contribuindo um com o outro. "Temos a liberdade de dar a opinião no trabalho de cada um. Isso faz com que todos participem, de certa forma, no processo criação das obras", explica Abelardo Brandão.
Além da exposição em São Paulo, o Matrix prepara também uma mostra coletiva. Obras dos sete artistas ocuparão dois salões do MAUC, a partir de 10 de junho. "Nós consideramos um grande feito do grupo, que acabou de ser criado, já ser selecionado para um dos maiores eventos de gravura do Brasil e ter um exposição marcada em Fortaleza", comemora Bandeira.
O museu da UFC, por sinal, é local com que todos os membros têm um ligação especial, seja com passagens como estudantes, professores ou mesmo como fundadores. A instituição foi pioneira na valorização da gravura popular, quando, ainda nos anos 60, começou a montar um acervo de peças produzidas pelos artistas de Juazeiro do Norte.
Conexão
O MAUC foi também ambiente de efervescência para parte dos artistas integrantes na década de 1980. O local era uma espécie de centro de resistência da gravura, num momento em que a linguagem perdia espaço para outras da chamada arte contemporânea nas grandes galerias, principalmente em São Paulo e Rio Grande do Sul, maiores consumidores do gênero no País.
Em 1994, uma reforma interditou durante meses a oficina e a "diáspora" foi inevitável. "Foi um momento em que a gravura arrefeceu na quantidade de coletivos, mas não na produção individual", afirma Nauer Spíndola. Assim, cada artista seguiu trabalhando e sendo premiado. Novamente reunidos, o grupo de artistas seguem otimista e já colhendo bons frutos através da união de forças.
Modernização
Segundo os integrantes do coletivo Matrix, o Ceará costuma a ser associado à "gravura popular", devido a qualidade e a divulgação da obra artistas dedicados à xilogravura, bebendo em fontes tradicionais. "A gente respeita e tem um sentimento de carinho muito grande por esse aspecto, mas o grupo busca algo além disso. Buscamos propostas inovadoras, como a hibridização de técnicas", detalha Diego Sann.
Nos trabalhos dos gravadores do grupo, sobreposições de técnicas, como fotografia e projeções de imagens em instalações, ajudam a atualizar a gravura. "Hoje em dia essas questões de inovação são válidas, não só para os artistas individualmente, como para todo coletivo, que está também busca se situar no mercado", ressalta Diego.
Leonardo Bezerra
Repórter

FONTE: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/matrizes-da-gravura-cearense-1.1245613


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